Oi, gente, tudo bem?
Inspirado no meu post de Sailor Moon, resolvi que Fruits Basket (que vou chamar de Furuba, para ficar mais fácil) também merece demais um post dedicado neste meu humilde blog. Se você não sabe do que se trata a série, você pode ler sobre ela aqui.
Eu li o mangá de Furuba no meio dos anos 2000, quando ele foi publicado aqui no Brasil. Eu estava na faculdade, aquela época super conturbada onde você tem que se achar, trabalhar e estudar ao mesmo tempo; e de longe foi uma das histórias que mais me ajudou a pensar o meu lado humano, e por que não dizer que ajudou a formar parte do meu caráter.
Sei que pode parecer pesado falar que ele ajudou a moldar caráter, mas Furuba foge completamente do anime bonitinho engraçadinho que ele aparenta ser – ele é carregado de sentimentos intensos, de traumas, dramas e muitas coisas que poderiam ser como a nossa vida. Por isso que digo: se você for assistir ou ler a série, recomendo demais uns lencinhos, porque é impossível não chorar.
Agora chega de falatório e vamos ao que aprendi com Fruits Basket.
Família não está relacionado à sangue
Acho que esse é o principal ponto de Furuba: família não quer dizer quem é do mesmo sangue ou tem o mesmo sobrenome. Família é quem te ama, quem cuida de você, quem te apoia. E nem sempre nascemos nessa família, mas vamos as construindo ao longo do caminho.
Isso é muito legal de bater na tecla, ainda mais porque tem muita gente que bate na tecla que a gente tem que amar porque é da família. Não é assim, gente.
Eu tenho sorte de ter nascido em uma família que é realmente família, que a gente tem uns desentendimentos, mas se ama e se apoia acima de tudo. Nem todo mundo tem esse privilégio, especialmente minorias. Então amigos são família também. Eu tenho amigos que são a minha família, gente que conheci já depois de velha e que representam pra mim muito mais do que parentes distantes que tem o mesmo sangue e sobrenome que o meu.
Nem toda família é de comercial de margarina
Isso é uma das coisas principais que mais merecem atenção em Furuba: família pode ser tóxica sim. A gente sempre cresce com aquela coisa do “tem que amar a família”, ou aceitar porque é “sangue do seu sangue” e não é bem assim que valsa toca não.
Aliás, o conceito todo de família “tradicional” é destruído em Furuba, o que é bem irônico, já que na teoria eles são uma família super tradicional, com sobrenome mega renomado.
Tem de tudo, para todas as situações. Tem o abuso de poder do Akito, onde todo mundo só faz qualquer coisa sob a autorização dele (e ele nem é o mais velho da família!), e a palavra dele é absoluta e final. Tem o abandono parental dos pais que têm filhos que não são exatamente os que eles desejavam. Tem o patriarcado em sua mais pura essência, onde o patriarca é o centro da existência da família. Tem as pessoas que simplesmente se afastam porque não conseguem conviver num ambiente que é tóxico, abusivo e sufocante o tempo todo.
Agora sendo justa, também tem o lado bom da família também, que vou falar mais para frente.
Julgamento é feito por aparência – e quase sempre ele está errado
Um dos meus capítulos preferidos está no terceiro volume, quando o Hatsuharu e o Momiji (meus dois personagens preferidos ♥) são transferidos para o colégio de Tohru, Kyo e Yuki. O líder do grêmio do colégio questiona o Haru por ter cabelo branco, mesmo ele dizendo ser natural, e o Momiji por usar roupas de mulher sendo um homem, dizendo que isso era contra as regras e que não era certo eles agirem como deliquentes.
O Haru bate de frente com o cara, e pergunta se por acaso quem usa terno não ameça pessoas, se quem usa brincos não provoca pessoas e se ter cabelo preto significa que uma pessoa não vai matar outra. Quantos pré-conceitos você conseguiu ver aí? Quem tem cabelo colorido, piercing e tatuagem com certeza já ouviu que isso não era “coisa de gente direita”.
Cada um é livre para usar o que quiser
Ritsu é um homem que se veste de mulher poque se sente mais confiante dessa forma. Ele usa roupas de mulher, tem cabelo comprido e age como uma mulher, porque ele se sente mais confortável dessa forma. Tem noção do que é ter um crossdresser há quase vinte anos atrás?
É uma loucura a gente pensar que em 2019 a gente tem que ouvir ainda que “rosa é coisa de menina e azul coisa de menino” – e eu não falo isso só pelas falas da ministra, mas pela cultura que está na sociedade machista onde menino não pode usar rosa -, sabendo que lá no começo dos anos 2000 Furuba já jogava na nossa cara que a gente tem que usar o que faz a gente feliz e o que faz a gente se sentir bem.
O diferente não precisa ser assustador
Uma das coisas que mais ficam latente em Furuba: não é porque algo é diferente do que estamos acostumados que seja ruim. Quando a Tohru descobre que os Sohma viram animais do zodíaco chinês, ela poderia ficar assustada, mas não, ela acha incrível aquela coisa tão diferente do que ela estava acostumada.
Em quantas situações na vida a a gente não ficou com medo de algo ser diferente do que a gente está acostumado? Pessoas que se vestem diferente, que tem estilo de vidas diferentes, que agem diferentes, tende a nos assustar, e Furuba nos ensina que devemos aprender com essas pessoas, e não afastá-las ou julgá-las.
O amor é imprescindível
Muitas das situações de traumas que os Sohma têm estão efetivamente ligadas à falta de amor. E eu não falo de amor conjugal, mas sim de amor parental, fraternal… Como eles estão em uma condição diferente, ou os pais se tornam super-protetores ou nutrem completa aversão aos filhos e isso, claro, influencia o desenvolvimento e a criação deles.
Ritsu e Momiji são dois bons exemplos dessa situação: a mãe de Ritsu é a maior apoiadora do filho, a mãe super protetora que faz tudo por ele, e isso influencia, claro, para que ele se vista da forma que ele se sente mais confortável e mais confiante. Do lado oposto está a mãe de Momiji, que acha que o filho é uma completa aberração e diz que o maior sonho dela seria nunca saber da existência dele. Com isso ele cresceu sem a figura da mãe e tem um comportamento mais infantil do que deveria ter em sua idade e também mais feminino.
Outro bom exemplo que podemos ter é do Yuki e do Ayame, que são irmãos, mas que não sabem o que é ser irmão, porque eles foram separados do convívio quando Yuki era muito pequeno. Em compensação, Ayame ama o Shigure como se fosse seu próprio irmão. Então eles jogam o tempo todo na nossa cara que a gente tem que amar por afinidade, e não por obrigação.
Pedir ajuda ou ter apoio não significa fraqueza ou vergonha.
A Tohru perde a mãe e com isso perde a casa que morava. E ela vai morar em uma tenda, tem um trabalho de meio período para pagar a escola e os seus gastos, e ninguém sabe disse porque ela não queria preocupar suas amigas mais próximas, que já tinham seus problemas. Ela acaba indo morar com os Sohma, que são péssimos em tarefas domésticas e eles se apoiam nesse sentido: Tohru ajuda com as tarefas, os Sohma lhe dão casa, comida e segurança.
E aí que vem o lance da família, porque a Tohru fala o tempo todo que os Sohma são sua família.
Quando as pessoas descobrem as situações em que ela se colocou, brigam com ela. Ela se esforça tanto para parecer que está tudo bem e tudo sobre controle que ela acaba se prejudicando no processo. Quantas vezes não fazemos isso? Eu falo por mim mesma, sou perita nesse tipo de coisa, em me fechar no casulo para ninguém se dar conta.
As pessoas lidam com situações de forma diferente.
A Tohru foi praticamente abandonada pela sua família depois da morte da mãe. E uma das coisas que sempre fica na cabeça das pessoas é: “como ela consegue estar sempre sorrindo e ser desse jeito sendo sozinha?’. Por outro lado o Kyo, que sempre ficou à sombra da família Sohma, tem um temperamento estourado e o pavio curto, por ter sempre se sentido jogado de lado. Os dois passaram por uma situação de abandono, mas lidaram com isso de forma diferente.
A Kisa, mais uma do clã Sohma, lidou com bullies com o silêncio – ela simplesmente passou a não falar nada mais. O Haru, mais estourado, lida com os bullies com rispidez. O que o Haru fez quando soube o que aconteceu com a Kisa? Foi solidário e mostrou empatia com a situação dela.
O que podemos concluir? Que as pessoas não são iguais, reagem de formas diferente às mesmas situações. Às vezes você pode ficar bravo e achar que a pessoa deveria fazer x ou y, mas só ela sabe o que está sentindo e o que se passa na sua cabeça. Então a empatia é fator fundamental, especialmente nos dias de hoje, que temos a tendência de ser cada segundo mais egoístas.
A bondade pode mudar o mundo (nem que seja o de uma só pessoa).
Os Sohma foram criados em uma ambiente mais frio e arbitrário, onde poucos deles receberam bons sentimentos de seus familiares. Até mesmo entre os amaldiçoados nem sempre tem aquela afinidade, de gente que deveria se entender.
A bondade de Tohru faz com que eles vejam a vida de outra forma, pelas experiências que eles passaram após o encontro de uma pessoa que faz com que eles vejam as coisas de uma ótica diferente. E a bondade é uma tecla constante na série, onde a Tohru tem flashes da mãe falando para ela ser uma pessoa boa, porque a bondade muda o mundo.
Eu sei que o texto ficou longo, mas Fruits Basket é uma série que pessoalmente me afeta demais. Agora com a nova temporada do anime, mais coisas voltam à tona e agora, mais velha, eu consigo ver o quanto mais as coisas fazem sentido, e o quanto o significado daquela série que eu conheci há quinze anos atrás são muito mais do que aquela Dani jovem que mal sabia o que a vida aguardava para ela.
Eu não preciso nem dizer que vale a pena demais, né? A versão 2019 de Furuba está incrível, e o mangá é incrível também. Recomendo para você ver o mundo de uma outra forma ♥